O que realmente afundou o Brasil

Ontem o Hélio Beltrão e o Ubiratã Iório compartilham no facebook esse artigo escrito da Mary O’Grady no Wall Street Journal, o original está aqui.

A tradução é minha e a leitura é obrigatória para quem quer entender a economia contemporânea do Brasil.

“É fácil culpar queda dos preços do petróleo pela crise econômica no Brasil. Também é errado. As feridas do Brasil são auto-infligidas por uma combinação de políticas opostas aos princípios de crescimento econômico que remontam a 2008. Os resultados eram previsíveis.

A economia brasileira contraiu impressionantes 4,5% no terceiro trimestre quando comparada ao ano anterior. O Fundo Monetário Internacional prevê que em 2015 o produto interno bruto do Brasil vai diminuir 3% e mais 1% em 2016. Isso depois de um crescimento zero em 2014.

Em setembro, a Standard & Poors reduziu o grau de investimento do país. Na quarta feira a Moody disse que ele está pensando sobre um rebaixamento similar da dívida brasileira. A taxa de inflação anual no final de novembro foi de 10,5% e a CIBC Capital Markets prevê um déficit fiscal de 10,5% em 2015.

Os meios de comunicação internacionais culpam a forte queda dos preços do petróleo trazida por um dólar forte e uma queda na demanda global. Mas o Brasil é uma das economias mais fechadas do G-20, e, de acordo com a CIBC Capital Markets, suas exportações de bens como percentual do PIB em 2014 foram de apenas 10,5%, as do México foram de 18,24%. Todos os exportadores de commodities latino-americanos estão sentindo a crise do petróleo e das commodities, mas nenhum sofreu consequências tão ruins como o Brasil. Chile e Peru, grandes exportadores de commodities, ainda estão crescendo. Além disso, os preços mais baixos das commodities também compensam o alto custo de fazer negócios no Brasil. Em 2014, 40% das importações brasileiras estavam ligadas às commodities, inclusive fertilizantes, gasolina, alumínio para fabricação de aço, e petróleo cru.

Uma década atrás, houve razão para esperar que uma maior prosperidade brasileira estava chegando. Tal otimismo dependia das reformas económicas, fiscais e monetárias instituídas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso 1995-2002.

O presidente Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu o cargo em 2003. Sua história pessoal como líder sindical militante e discípulo de Fidel Castro causou pânico nos mercados. Para estancar a debandada dos investimentos ele se comprometeu a não mexer com a autonomia do Banco Central ou com a estabilidade do Real, e não a alterar radicalmente a política econômica.

Geanluca Lorenzon, diretor do Instituto Mises Brasil, em São Paulo, me disse em uma entrevista por telefone na semana passada que o Sr. da Silva ainda aprofundou o compromisso do governo para contenção fiscal por um tempo. Mas em 2008, em seu segundo mandato, a crise financeira global atingiu o Brasil. E ele se rendeu.

Lorenzon diz que Lula passou ao estímulos através de gastos, enquanto o Banco Central, supostamente autônomo, começou a permitir uma inflação mais elevada, como forma de estimular o crescimento.

Para uma cultura política predisposta aos abusos do poder do governo, a quebra das regras estabelecidas durante o governo FHC – que foram projetadas para restringir esse mesmo poder – desencadeou um retorno ao mau comportamento do governo.

Desde 1960 o Brasil tem perseguido a industrialização através de altos níveis de protecionismo e subsídios para produtores nacionais. O fracasso dessa estratégia é conhecido. Mas deixar as empresas pouco competitivas quebrarem teria custos políticos que o Sr. da Silva e sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, não estavam dispostos a pagar.

Ao invés disso eles aumentaram o protecionismo e os subsídios e expandiram o crédito rapidamente através do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e outros bancos públicos. Eles também financiaram grandes déficits do governo com empréstimos majoritariamente domésticos. Os déficits foram exacerbadas pela triplicação do número de servidores públicos durante os governos do PT e de aumentos injustificados do salário mínimo e de benefícios de aposentadoria e bem-estar social.

O Instituto Mises Brasil observou em um post de novembro de 2010 que, de maio de 2009 a setembro de 2010, houve uma expansão de 25% do crédito. Não por coincidência, em 2010 o Brasil cresceu 7,5%, mas não, como se sabe bem agora, por causa de ganhos de produtividade. Olhando para trás e para a má alocação do capital, o instituto escreveu em fevereiro deste ano, que “o que realmente aconteceu é que a economia brasileira foi mantida viva por doses novas e crescentes de crédito estatal.”.

O crédito do BNDES era barato para empresas politicamente conectadas que o governo queria salvar, mas teve custos para a nação. Crédito subsidiado também foi para as famílias. Sr. Lorenzon me disse que, atualmente, a família brasileira média está carregando um fardo do serviço da dívida equivalente a 46% de sua renda total. Atualmente o maior programa de financiamento imobiliário do governo [Mina Casa, Minha vida. N.T.] tem uma taxa de inadimplência de quase 22%.

Para salvar os benefícios das empresas nacionais, o Brasil tem elevado as taxas sobre importados e promovido o consumo de produtos made-in-Brasil. Isso prejudicou a inovação e o desenvolvimento. Grandes reservas de petróleo offshore não serão exploradas enquanto os investidores estiverem paralisados ​​por regras que exigem que o seu equipamento seja fabricado nacionalmente.

O Brasil está colhendo os frutos de uma política industrial nacional que não pode produzir crescimento e prosperidade. A bolha de crédito estourou. Os consumidores, empresas e o governo não voltarão ao equilíbrio sem um ajuste doloroso. Não ponha a culpa no preço do petróleo.

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