Empreendedor: a abordagem baseada em julgamento
O Prof. Peter Klein, notório scholar do Mises Institute e da Escola de empreendedorismo da Baylor University, trabalha com empreendedorismo.
Com a permissão dele traduzi o texto no Facebook no qual ele fala sobre a teoria do empreendedorismo que ele, junto com o prof. Nicolai Foss, da Università Bocconi, na Itália, tem desenvolvido.
O professor Klein define a “Abordagem Baseada em Julgamento” da seguinte maneira.
A Abordagem Baseada em Julgamento (Judgment-Based Approach – JBA) enxerga o o empreendedorismo como o processo de combinação e recombinação de recursos heterogêneos em busca do lucro econômico sob condições de incerteza Knightiana. Diferentemente de estudos que definem empreendedorismo como a abertura de empresas por um ‘autônomo’, como estando ligado à startups ou à empresas de alto crescimento, a JBA entende o empreendedorismo como uma função econômica que pode ser desempenhada por uma variedade de indivíduos e grupos e em diferentes contextos (inclusive dentro de organizações previamente existentes). O julgamento está relacionado à tomada de decisão sobre o futuro sem que o decisor tenha acesso a um modelo formal de decisão, como ocorre no comportamento “racional” sob risco probabilístico. O julgamento foi descrito como intuição, intuição ou Verstehen, e é deliberado e intencional, embora não seja sempre exato ou confiável. Em um contexto comercial, o julgamento envolve tomar posse de recursos físicos e outros recursos valiosos e implantá-los de maneira a gerar ganhos financeiros. Ex post, os mercados selecionam o julgamento empresarial por meio do mecanismo de lucro e prejuízo. Essa compreensão do empreendedorismo a) enfatiza a propriedade e a responsabilidade, conceitualizadas como direitos residuais de controle, ao invés de ousadia, criatividade ou imaginação; b) está intimamente ligada às teorias da firma, teorias sobre a organização, e teorias sobre estratégia; e c) evita a idéia popular de “oportunidades empreendedoras”, que se tornou uma fonte de controvérsia na literatura acadêmica de empreendedorismo.
Ao invés de usar as ‘oportunidades’, a JBA adota a estrutura de BAR (Belief-Action-Result [Crença-Ação-Resultado]) Crenças (sobre características presentes e futuras dos recursos, condições de mercado, ações de concorrentes, instituições, e a capacidade do empreendedor de criar um futuro imaginado), Ações (investimentos em novos empreendimentos ou produtos, reconfiguração de conjuntos de recursos existentes, compromissos com novos modelos de negócio), e Resultados (ganhos e perdas financeiros e não financeiros), bem como ajustes ex-post (aprendizado e seleção de mercado). Com sua ênfase no processo, na incerteza, e na experimentação, a JBA tem muito em comum com as literaturas sobre Effectuation e Bricolage, bem como com trabalhos recentes sobre criação de oportunidades, mas é diferentes destas em pontos importantes. Além disso, enquanto a JBA se baseia em entendimentos “austríacos” sobre mercados e concorrência, ele se afasta da abordagem do “processo de descoberta” associado a Israel Kirzner.
Visões gerais sobre a JBA podem ser encontradas em [alguns livros, dentre eles:] Risco, Incerteza e Lucro de Frank Knight (1921), The Entrepreneur: An Economic Theory (1982), de Mark Casson [sem tradução para o português], e Organizing Entrepreneurial Judgment de Foss e Klein (2012) [também sem tradução para o português].