Quem cuida da nossa gente?
Meu texto originalmente publicado, impresso, na revista Vox S.A.
Há alguns meses, no auge da discussão sobre o teto de gastos do Governo Federal, fui convidado para participar de uma discussão na Universidade Federal, uma das perguntas da plateia foi a seguinte:
“Como eu e minha família ficamos, quem nos ampara, se não o governo, caso não possamos nos sustentar?”
A resposta certa é simples: quem deve cuidar de uma família necessitada é, como foi durante milênios, a comunidade ao seu redor.
Ao longo da história até o início do século XX, pessoas necessitadas foram ajudadas por suas comunidades – vide os casos dos hindus na Ásia, dos Católicos na Europa e na América, dos Judeus por todo o mundo.
A resposta errada é mais simples ainda:
“o governo deve cuidar dos necessitados”.
Antes de achar que eu estou errado reflita sobre de onde vem o dinheiro do governo? Pobres não pagam impostos?
Ao colocar nas mãos do governo a responsabilidade de cuidar da comunidade cai-se num problema moral sério, as pessoas pensam: “já pago tanto, por que razão deveria ajudar alguém? O governo que se vire!”. Já pensou assim, não é?
Como diz Sir Roger Scruton: A compaixão verdadeira consiste em dar o que é seu, não em pegar o que algum outro ganhou honestamente, dar para um terceiro e se vangloriar disso.
Pois então, neste contexto, onde se encaixam as empresas?
Empresas são organizações criadas para resolver problemas de pessoas, para isso elas reúnem e controlam recursos de forma a buscar ganhos futuros servindo seus clientes – e não explorando-os como alguns arautos ainda insistem em propagar.
E se essa inventividade, criatividade e capacidade de resolver problemas for usada para ajudar mais ainda a comunidade ao redor deles?
Tenho absoluta convicção que as empresas têm muito a contribuir para as causas não diretamente ligadas ao seu negócio, além disso, é do interesse financeiro delas, explico. A médio e longo prazo é interessante para as empresas que a sociedade na qual estão inseridas prospere. Numa sociedade mais próspera as pessoas são mais capazes de comprar mais, a empresa ganhará mais, portanto.
Alguns perguntarão:
“Mas Fernando, não és tu que defendes, baseado em literatura muito consistente, que o único objetivo da empresa é dar lucro? Não és tu que acredita piamente nisso? E então, se a empresa começa a gastar dinheiro com causas sociais ela não vai diminuir seu lucro? Como tu explicas isso?”
Bem, eu certamente acredito que a razão de ser das empresas é e sempre será gerar lucro, mas jamais disse que isso deveria ser feito só aqui e agora. As empresas devem buscar gerar lucro constantemente e por muito tempo; apostar na melhoria das sociedade que as circundam é uma maneira de plantar agora para colher no futuro.
Assim, tenho como certo o valor e a importância da dita ‘responsabilidade social das empresas’.
Empresas, por conhecerem seu ambiente e por terem motivos para querer que ele melhore, são diretamente interessadas na melhoria da sociedade ao seu redor, cabe aos governantes não atrapalhar e, quando possível, facilitar essas ações, dando às empresas e empreendedores incentivos e diminuindo a burocracia necessária para usufruir destes, por exemplo, com a redução de impostos baseada naquilo que a empresa usou para ajudar diretamente a comunidade.
É responsabilidade de cada um cuidar de si mesmo e dos seus e, como diz são Tomás de Aquino, uma das justificativas morais do lucro das empresas é ter a possibilidade de ajudar os mais pobres. Aos governos cabe facilitar para que isso ocorra e garantir a lei e a ordem. Empresas e quaisquer outras instituições irão cada vez mais participar para a melhoria do bem comum da sociedade se sua liberdade de ação não for cerceada por ações desmedidas de governantes que querem tomar para si o monopólio da compaixão.