Entendendo a Grécia (3)
Traduzo aqui a carta enviada por George Papaconstantinou, economista e ex-ministro das finanças da Grécia, no NYT em resposta ao artigo do Paul Krugman, um banho de realismo.
“Ao Editor:
Em sua coluna 29 de junho, “Grécia além do limite“, Paul Krugman escreve: “A Grécia deve votar ‘não’, e o governo grego deve estar pronto, se necessário, para deixar o euro.”
Me espanta a facilidade com que ele recomenda isto num momento em que os caixas eletrônicos em Atenas estão vazios, controles de capital – com um limite de retirada diária de 60 euros por dia – estão acontecendo, existem filas em postos de gasolina e supermercados e as aposentadorias não estão sendo pagas. Ele sem preocupação acrescenta: “Muito e talvez a parte mais temida do caos do Grexit – a saída da Grécia do euro -. Já aconteceu”
Verdade? Talvez seja assim se virmos a situação de onde ele está, em Nova York; certamente não é como as coisas são sentidas em Atenas.
Krugman, e vários outros economistas americanos ilustres, olha para a Grécia como um playground para a austeridade contra o debate não-austeridade. Mas esta não é a questão na Grécia hoje.
Não havia dúvida sobre a existência de muitas falhas nos programas de resgate que a Grécia assumiu. Mas o que estes programas de resgate e os sucessivos governos gregos desde 2010, quando no governo de George Papandreou, eu fui ministro das Finanças, foi exatamente evitar a crise que estamos vendo hoje.
Após cinco anos de enorme esforço econômico e social, no início de 2015, a economia estava crescendo novamente. O que estava à frente era uma promessa de alívio da dívida adicional, e recuperação econômica e social.
Em apenas cinco meses o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras conseuiu destruir tudo isso por causa de uma combinação de cegueira ideológica, falta de compreensão das regras básicas da zona euro, ameaça/chantagem imperdoável e simples incompetência .
Para coroar tudo, o governo anunciou um referendo sobre demandas dos credores, dando ao povo grego uma semana (!) para tomar uma decisão que poderá definir o o futuro do país por gerações.
Não é exagero dizer que a Grécia está hoje escorregando lentamente para o totalitarismo. E um voto “não” no referendo de domingo será mais um passo nessa direção. Progressistas não deveriam fornecer cobertura intelectual para isso.
George Papaconstantinou, Atenas”