Entendendo a Grécia (1)
O problema da Grécia está diretamente relacionado à adoção do Euro.
Nos últimos anos Portugal, Irlanda, Itália e Espanha flertaram com um colapso similar ao Grego, o medo é que, se um desses países cai, pode levar junto o mundo todo.
A Europa tem ‘só’ 10 milhões de km², cerca de 7% da área do mundo, Por séculos os reinos europeus viviam em guerra, a Segunda Guerra foi especialmente destruidora. Depois dela surgiu a idéia de transformar a Europa, facilitar o comércio para diminuir as rixas, daí para a adoção de uma moeda comum foi questão de tempo.
O Euro foi introduzido em 1/1/1999. Os países que o adotaram descontinuaram suas moedas nacionais (exceto a Grã-Bretanha que manteve o Pound circulando até hoje) e com elas toda a sua política monetária, o controle da moeda foi centralizado no Banco Central Europeu (BCE), porém a política fiscal ainda é nacional, independente.
Esses dois fatos: política monetária unificada e política fiscal independente (http://wp.me/p67qYo-6c) são provavelmente a maior causa para a crise de débito que vemos agora.
Ao entrar no Euro, com uma moeda forte, os países com políticas fiscais mais frouxas, que gastavam mais do que arrecadavam, passaram a ter acesso a crédito muito mais barato. Fizeram a festa: emprestaram muito e a juro baixo. A taxa de juros que a Grécia pagava caiu de 18% para 3% a.a. em questão de meses. Os credores acreditavam, inocentemente, que, caso algum país decidisse não pagar, a comunidade europeia pagaria, só esqueceram de dizer isso para a população dos países que não estão em déficit, em especial a Alemanha.
Com o dinheiro mais fácil, países menos responsáveis fiscalmente foram capazes de aumentar enormemente seus gastos, oferecendo todo tipo de benesse para as populações, a Grécia sediou os jogos olímpicos, Portugal sediou a Eurocopa, as pensões na Espanha e na Itália são muito generosas, o wellfare state é regra.
Políticos se aproveitaram da facilidade de crédito para emprestar dinheiro e oferecer benesses às populações para serem re-eleitos. “Eu empresto, ganho prestígio, um dia a bomba estoura no colo de alguém, mas meu nome estará gravado na história”.
Com o empréstimo contínuo, o gasto também continuava, emprestava-se para pagar o prometido e depois paga pagar o empréstimo. Em 2008, a bolha imobiliária americana o fechou as torneiras de crédito, Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda não podiam mais emprestar a juros baixos para financiar suas gastanças.
Para que a economia Europeia não quebrasse a Alemanha aceitou pagar os débitos, desde que os outros países adotassem a ‘austeridade’, que parassem de gastar o que não tinham e começassem a pagar o que deviam, emprestassem menos, cortassem gastos.
Austeridade, porém, é difícil, o governo deverá deixar de gastar (e ele é quem mais gasta numa economia), esta redução causa problemas: pessoas perdem benefícios, empregos, as pensões e aposentadorias ficam menores e mais difíceis de conseguir. As reclamações aparecem, os partidos mais extremistas surgem com soluções mágicas, Podemos na Espanha e o partido que está no poder na Grécia são exemplos disso.
Ao mesmo tempo, o governo passa a coletar menos impostos, as pessoas e empresas estão ganhando menos.
As diferenças culturais na Europa complementam o quadro, os países mais ao norte (representados pela Alemanha) são mais organizados e menos gastadores, os do sul (Espanha, Itália, Portugal, Grécia) são menos preocupados com o futuro e tendem a gastar mais agora.
O calote de um país pode iniciar uma reação em cadeia e potencialmente destruir todo o sistema Euro, potencialmente todo o sistema monetário internacional estaria em perigo.
Uma união fiscal junto à união monetária poderia prevenir futuros problemas como esse, isso significaria abrir mão das nações e partir para uma Europa unificada como um estado, coisa que não parece ser uma solução plausível por enquanto.
A lição a se tirar de todo esse caos é, ao meu ver, bastante simples: não é possível sobreviver de débitos. Sair da Comunidade Europeia pode parecer uma solução para a Grécia, mas apenas jogará o problema mais para frente. Todo país, assim como toda pessoa deve entender que bem estar não pode ser ‘criado’ sem trabalho.
As idéias aqui apresentadas estão também no vídeo abaixo.